Como são elaborados perfis psicológicos criminais?
A popularidade de filmes como O Silêncio dos Inocentes e de séries como Criminal Minds e Mindhunter fizeram com que muitos espectadores se interessassem pelos chamados perfis criminais e pelos agentes que estão por trás deles. Conhecidos como profilers, estes especialistas são peritos em identificar os indivíduos por trás de crimes graves. Utilizando uma minuciosa metodologia e técnicas precisas, como um extenso conhecimento de comportamentos e probabilidade estatística, os profilers trabalham junto de equipes forenses e outros agentes da lei para impedir que criminosos saiam impunes.
Agentes do FBI como John E. Douglas e Robert K. Ressler, autor de Mindhunter Profile: Serial Killers, foram alguns dos primeiros especialistas a desenvolver um método capaz de traçar perfis psicológicos criminais. Ao entrevistar criminosos violentos e assassinos em série, como Charles Manson e Ted Bundy, os dois agentes catalogaram e criaram um método de análise desse tipo de criminoso, começando assim um processo de identificação de padrões e correlacionamento de comportamentos que é utilizado até os dias de hoje.

O interesse por perfis criminais caminhou junto com o boom de narrativas de crimes na ficção, tornando-se tema de inúmeras narrativas. O próprio Ressler, por exemplo, serviu de consultor para Thomas Harris durante a redação de O Silêncio dos Inocentes, livro que daria origem ao icônico filme de 1991. Por outro lado, em A Boa Mentira, A. R. Torre se concentra nos detalhes de como são criados os perfis psicológicos de pessoas violentas, explorando os processos mentais desses indivíduos.
Parte do projeto especial E.L.A.S. – Especialistas Literárias na Anatomia do Suspense, que integra a marca Crime Scene Fiction da DarkSide® Books, A Boa Mentira acompanha a psiquiatra Gwen Moore, uma especialista em assassinos e pessoas com instintos perversos. Entre seus pacientes, encontram-se indivíduos com personalidades parecidas com a do serial killer BHK, o Assassino do Coração Sangrento, procurado pela morte de seis adolescentes. Quando Scott Harden, a última vítima do BHK, consegue escapar, ele identifica Randall Thompson, professor do ensino médio, como seu sequestrador. O caso parecia encerrado para Gwen e todos os envolvidos, até que uma reviravolta inesperada acontece, lançando a psiquiatra em uma complexa investigação.

Em vez de seguir pistas tradicionais ou acompanhar a busca pelo criminoso, A Boa Mentira se concentra justamente nos perfis psicológicos criminais. Logo, é normal que o leitor tenha a seguinte dúvida: o que são esses perfis e como eles são elaborados? Vem que a Caveira explica tudo que você precisa saber.
O que é um perfil psicológico criminal
O perfil psicológico criminal é um instrumento investigativo utilizado quando faltam provas ou suspeitos de um determinado crime, ou seja, quando o criminoso é desconhecido e outras formas investigativas, como análises de vestígios forenses, testemunhas e exames laboratoriais se mostraram infrutíferos e inconclusivos. Utilizando evidências e raciocínio lógico, além de teorias e metodologias, os profilers criam um perfil psicológico ou criminológico do misterioso autor do crime com base no comportamento exibido durante a sua execução. Esse conjunto de metodologias utilizadas para a construção e identificação de um perfil criminal tem até nome: criminal profiling.

Essa técnica tem dois objetivos gerais. Primeiramente, auxiliar os investigadores a identificar as características do criminoso, traçando um perfil psicossocial e construindo uma lista de suspeitos com base em critérios de inclusão e exclusão. Isso por sua vez também pode ajudar na exclusão de suspeitos, de forma que a investigação passa a seguir outro rumo. Outro objetivo comum é utilizar o profiling para analisar e identificar o contexto em que ocorreu o crime.
Os profilers são especialmente eficazes em casos envolvendo sequestradores, incendiários, assassinos em série, criminosos sexuais e terroristas. Um exemplo é a dra. Ann C. Wolbert Burges, autora de Mindhunter Profile 3. Uma das figuras mais respeitadas na psicologia forense e cofundadora da Unidade de Ciências Comportamentais do FBI, Burger foi convocada pela agência devido a sua inovadora pesquisa sobre violência sexual e trauma, estabelecendo assim uma carreira dedicada aos perfis criminais.

Utilizando a psicologia, os profilers conseguem entender os comportamentos e personalidades desses indivíduos, seus padrões e motivos, podendo então formular teorias sobre quando e como eles vão agir em seguida. Tudo isso ajuda a tornar tais criminosos menos imprevisíveis e facilita sua apreensão, já que os profilers podem estabelecer causas prováveis para mandados de busca e também ajudar as autoridades na compilação de evidências. Devido à sua compreensão do comportamento criminal e dos detalhes do crime, tais agentes também podem prestar depoimentos como testemunhas especializadas em julgamentos.
Como é elaborado um perfil criminal
Como todo crime possui um contexto único, o perfil criminal pode ser elaborado a partir de diferentes variáveis, como as características da vítima, a cena do crime em si e o comportamento demonstrado pelo agressor. Um dos primeiros passos dos profilers é justamente a coleta de dados que visa reunir o maior número de informações possíveis sobre o crime, o criminoso e suas vítimas. Desta forma, para mergulhar no contexto eles recorrem a análises detalhadas da cena do crime, relatos de testemunhas e informações pessoais sobre a vítima.
Posteriormente, é analisado o modus operandi do criminoso: a forma como escolhe suas vítimas, o tipo de violência perpetrada, o estado do local do crime e o uso de armas ou outros instrumentos. Tudo isso ajuda a identificar padrões de comportamento e aspectos psicológicos do criminoso, como impulsividade, necessidade de controle, raiva e até arrependimento.

Depois disso, são investigados o local do crime e o contexto em que ele aconteceu. Os profilers questionam se o crime foi cometido em um lugar privado ou público, em qual tipo de ambiente ele aconteceu, se foi planejado ou impulsivo e até mesmo o comportamento do criminoso antes e depois. Esses pontos ajudam a entender se houve planejamento ou improviso. Com base nisso, os especialistas criam um panorama geral da mente do criminoso, ressaltando pontos como motivações, personalidade, histórico de vida e relacionamentos interpessoais. Isso culmina na construção do perfil psicológico criminal o qual oferece uma descrição detalhada que pode incluir idade, sexo, estilo de vida, personalidade, condições psicológicos e até mesmo o comportamento do criminosos antes e depois do crime.
De forma bastante resumida, o treinamento do FBI indica uma fórmula básica para a construção de um perfil criminal: análise da cena do crime + análise vitimológica + perfil psicológico e comportamental do criminoso.
Profilers em ação
Por não ser uma ciência exata, os profilers precisam combinar análise empírica, experiência prática e interpretação de dados. Eles também precisam separar fatos de opiniões e agir de forma bastante observadora. Embora a construção do perfil possa ser dedutiva, indutiva ou uma combinação das duas coisas, o especialista sempre precisa se basear em evidências, raciocínio e processos lógicos que seguem uma metodologia rigorosa.

Dentro do mundo do criminal profiling existem diferentes metodologias e abordagens epistemológicas. Dentro delas existem aquelas que são ideográficas, voltadas para casos criminais individuais e que se aprofundam em um criminoso específico tentando entender suas motivações, comportamento e personalidade, e as nomotéticas, que buscam criar teorias amplas que possam ser aplicadas a grandes grupos na tentativa de entender taxas de criminalidade e correlações entre crime e certos fatores sociais, por exemplo. Enquanto as abordagens ideográficas utilizam métodos qualitativos, como estudos de caso, entrevistas e observações, as nomotéticas optam por métodos quantitativos, como análise estatística, estudos longitudinais e quantificação de dados. Existem também os estudos criminológicos que mesclam essas duas abordagens, considerando tanto casos individuais quanto tendências gerais de uma determinada sociedade.
É claro que os profilers também podem seguir diferentes métodos. Um dos mais famosos, desenvolvido pelo FBI após um estudo com vários assassinos em séries, caracteriza o agressor a partir da dicotomia organizado e desorganizado. Desta forma, distingue-se que os criminosos do tipo organizado geralmente possuem um QI mais alto, uma vida social plena e tem a tendência de atacar pessoas desconhecidas, enquanto os desorganizados possuem um QI mais baixo, são solitários e vão atrás de pessoas conhecidas.
Há também o profiling geográfico, que se aprofunda no local do crime e no comportamento espacial do criminoso visando estabelecer uma relação a partir de suas zonas sociais de convívio, como trabalho e residência. Já na análise de provas comportamentais, um método ideográfico, os profilers trabalham principalmente a partir de dedução e intuição, focando em um único crime e reunindo características a partir de vestígios como documentos, testemunhas e provas deixadas na cena do crime. Atualmente, outra tendência é o uso de tecnologia e bancos de dados para que investigadores possam vincular evidências e casos, trocando informações e ajudando uns aos outros na hora de elaborar perfis.

Profilers na literatura
É claro que o perfil psicológico criminal não visa substituir outros métodos investigativos. Na verdade, ele atua em conjunto com inúmeras outras linhas e profissionais para oferecer recursos na solução de um caso e seu processo judicial. Para os interessados nesse mundo, a DarkSide trouxe para o Brasil a coleção Mindhunter, composta por três volumes que celebram a ciência comportamental e a importância dos perfis criminais, assim como os dedicados profissionais que introduziram essas inovadoras técnicas no mundo das investigações.

Já para os DarkSiders que não resistem a um bom thriller literário, em A Boa Mentira a premiada escritora A. R. Torre se concentra em como são criados os perfis psicológicos de pessoas violentas, explorando seus processos mentais e analisando as nuances da natureza humana e as complexas áreas cinzentas do comportamento e da moralidade. Parte do projeto E.L.A.S., A Boa Mentira traz a temática do perfil criminal inserida em uma premissa intrigante, desenvolvendo uma história repleta de reviravoltas onde todos buscam a verdade, mas constantemente a ocultam com seus perigosos segredos.
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