Com Nany People em vídeo, peça Eu, Estatística faz protesto cênico contra a LGBTQIAPN+fobia
Num palco cru, com apenas um microfone, molduras vazias, luz âmbar e trilha musical, Eu, Estatística é mais que um monólogo. É um protesto cênico contra a LGBTQIAPN+fobia e o apagamento da saúde mental nessa comunidade.
Escrita e protagonizada por Maciel Silva, a peça é construída a partir de dados do Ministério da Saúde e da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) mesclando depoimentos reais de pessoas LGBTQIAPN+ com a trajetória ficcional de um jovem gay que tenta sobreviver à ignorância de uma sociedade adoecida. No centro do palco, um corpo, uma voz, e uma urgência: não virar mais uma estatística. A peça estreia no dia 31 de maio no Teatro Casa de Artes SP, na Rua Major Sertório, 476, Vila Buarque, e conta com a participação em vídeo de Nany People.
“Estava pesquisando saúde mental da população LGBTQIAPN+ quando fui alvo de uma agressão verbal homofóbica nas ruas de São Paulo. Aquilo me despertou. Ri na hora, mas a dor ficou. Decidi transformar a pesquisa em arte com função social, e nasceu essa peça”, explica o autor e ator Maciel Silva. “É um tema que não se esgota. A violência continua, desde questões de emprego, saúde mental, violência parental, violência dos órgãos públicos, entre outros. As estatísticas continuam. Precisamos reagir.”
A trama gira em torno de Estatística, um ex-suicida que virou voluntário no CVV. Ele atende ligações de pessoas em sofrimento, até que o próprio passado bate à porta: seu pai homofóbico e doente precisa morar com ele. Essa convivência forçada dispara gatilhos e o personagem entra em colapso, lutando para não ser engolido pelos mesmos fantasmas que jurou combater.
“Este não é o primeiro texto em que atuo e escrevo, mas considero o mais importante, por causa do tema abordado e porque me vejo na personagem principal. Então, está sendo um desafio diferenciar o que sou eu autor/ator do personagem”, afirma Maciel. “Às vezes, as emoções se misturam. Mas é um desafio que encaro com muita alegria, pois estou protegido por uma equipe que me apoia e me acolhe para poder contar essa história.”
Na direção, Fellipe Calixto optou por radicalizar a simplicidade para amplificar a força do conteúdo e valorizar a interpretação do ator em cena. “O texto do Maciel já traz muitos direcionamentos. A missão foi respeitar isso com delicadeza e impacto. O monólogo pede poucos elementos cênicos. O assunto é pesado e precisava de espaço para ressoar”, explica o diretor.
“As molduras vazias em cena representam as vítimas da LGBTfobia. O cenário é uma caixa onde o personagem transita com suas dores. Tudo foi pensado para não distrair a plateia do essencial: o humano em cena.”
A obra também costura diferentes linguagens — música, dança, teatro documental — e emociona sem perder a potência do grito. A presença em vídeo da atriz Nany People, referência na luta por visibilidade trans, amplia o alcance simbólico e político do espetáculo.
Foto: Rafa Marques
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