O quanto é preciso se afastar para, enfim, encontrar a si mesmo? Essa é a pergunta que guia Cartografia para caminhos incertos, novo romance do baiano Ian Fraser, que chega às livrarias em maio pela editora Intrínseca. Finalista do Prêmio Jabuti em 2023 com A vida e as mortes de Severino Olho de Dendê, uma ópera espacial nordestina, Fraser retorna com uma obra que mistura realismo mágico, lirismo e uma ode à cultura brasileira.

Na história, somos levados a Redenção, uma cidade mítica da Bahia que vive em constante movimento, alheia a mapas e imune a qualquer tecnologia. É lá que vive Mané, um jovem sonhador que “inventou de ser poeta”. Seu cotidiano ganha novo rumo quando o namorado, Jeremias, lança um desafio: se o próximo beijo do casal não provocar uma revoada de borboletas amarelas, o relacionamento chegará ao fim.

Determinado a salvar seu amor, Mané parte numa jornada surreal em busca da cidade desaparecida. No caminho, atravessa territórios insólitos e mágicos: uma torre que desafia o tempo, territórios em guerra sem razão aparente e uma cidade em que todos vivem como personagens de um espetáculo teatral. Em cada parada, encontra figuras marcantes e vivências que ampliam sua percepção sobre o mundo e sobre si mesmo.

Entre encontros transformadores — como com o palhaço Severino, velho conhecido dos leitores de sua obra anterior — e reflexões profundas sobre identidade, saudade e pertencimento, o protagonista descobre que, às vezes, é preciso se perder para encontrar o caminho de volta ao próprio coração. “Certeza é coisa miúda, cabe no bolso. Grande mesmo é a dúvida”, ensina a Bruxa que criou Redenção.

Com uma prosa que flerta com a poesia e mergulha na alma brasileira, Ian Fraser entrega um livro encantador, melancólico e divertido, que celebra o poder da dúvida, da busca e do recomeço. Cartografia para caminhos incertos é, acima de tudo, um mapa afetivo das jornadas interiores que todos nós trilhamos.