Chaos: documentário da Netflix traz teoria conspiratória sobre Charles Manson
Vencedor do Oscar por Sob a Névoa da Guerra, de 2004, Errol Morris viveu uma típica experiência de “pessoa certa no lugar certo na hora certa” ao visitar a California Medical Facility, prisão em Vacaville, quando ainda era um estudante. Interessado nos presos por assassinatos, o futuro documentarista estava lá para entrevistar o serial killer Ed Kemper, conhecido como Co-Ed Killer.
Mas, enquanto estava lá, recebeu uma oportunidade de ouro: “O guarda me perguntou após a entrevista (com Kemper): ‘Está interessado em conhecer Charles Manson?’”, disse ele. “E eu disse: ‘Claro! É claro que estou.’” O encontro não foi muito produtivo, explica Morris em entrevista à Rolling Stone: “Manson queria reclamar comigo sobre a falta de privilégios de masturbação”, ele brinca. Ainda assim, em meados dos anos 1970, Manson continuava sendo um fenômeno midiático, que continua a provocar fascínio até hoje, quase uma década após a sua morte.
O motivo? Em 1971, o carismático e perturbado líder da seita Família havia sido condenado por assassinatos de Tate-LaBianca, cometidos dois anos antes. Em 1974, o promotor Vincent Bugliosi publicou seu best-seller Helter Skelter — recém lançado pela DarkSide® Books – no qual relatou o caso — centrado no aparente desejo de Manson de iniciar uma guerra racial apocalíptica — que garantiu sua condenação.

“Todos conheciam esse caso”, diz Morris. “É um dos casos mais famosos da história norte-americana, se não da história mundial. E muitas pessoas, inclusive eu, leram mais de um livro sobre isso.” Além de Helter Skelter, ele cita The Family, de Ed Sanders.
Uma teoria que liga Manson à CIA
Em 2019, um novo livro levantaria uma teoria da conspiração que acaba de virar um documentário da Netflix, dirigido justamente por Morris. Chaos: Charles Manson, the CIA and the Secret History of the Sixties, de Tom O’Neill, escrito com o Dan Piepenbring, questionou o caso de Bugliosi. Segundo a obra mais recente, a Agência Central de Inteligência (CIA) manteria um programa ultrassecreto de controle mental chamado MKULTRA do qual a Família de Manson teria sido cobaia.
A investigação de O’Neill sugere que os assassinatos de Manson não foram um produto do amor livre envenenado, mas teriam sido uma espécie de consequência dos próprios experimentos da CIA com LSD e lavagem cerebral.

Chaos: Os Crimes de Manson estreia na Netflix em 7 de março. O filme de 90 minutos apresenta entrevistas extensas com O’Neill e o copromotor de Bugliosi, Stephen Kay, além de conversas telefônicas com Bobby Beausoleil, um membro da Família cumprindo prisão perpétua por um assassinato ocorrido semanas antes dos crimes Tate-LaBianca.
Há também uma série de imagens de arquivo e entrevistas com o próprio Manson e outros membros da Família, como Susan Atkins e Leslie Van Houten. O’Neill, que passou 20 anos obcecado por Chaos, reconhece que suas descobertas mais notáveis levam apenas a especulações.
Segundo O’Neill, Jolly West, um agente da CIA e especialista em lavagem cerebral, teria usado a clínica para recrutar sujeitos para estudos sobre LSD em jovens. Chaos sugere que Manson e a Família, após frequentarem a clínica, se tornaram o que o governo dos EUA teria tentado recriar em seus experimentos: assassinos programados, capazes de matar sem remorso. Para seu novo filme, Morris abraçou as incertezas e tentou “lidar com várias explicações de por que Manson cometeu esses assassinatos”.

Morris foi apresentado a O’Neill e sua investigação enquanto o jornalista ainda lutava para terminar seu livro. Na verdade, Morris diz ter sido chamado para ajudar O’Neill nesse “empreendimento labiríntico”. O documentarista passou três dias entrevistando o autor, mas O’Neill acabou ficando contra o filme, mudando de ideia décadas mais tarde. “Haverá tantas perguntas sobre esse assassinato que nunca serão respondidas”, diz Morris. “Ou vamos colocar assim: eu não tenho respostas para elas, e não tenho certeza de quando essas respostas surgirão”, disse ele.
A relação de Manson com a música
Na ausência de respostas concretas, Morris se agarrou a outras pessoas e elementos, como a música de Manson. O filme é embalado por gravações demo do líder da Família e traz uma entrevista com Gregg Jakobson, um caçador de talentos e amigo próximo de Dennis Wilson, dos Beach Boys, que também acabou se aproximando de Manson.
“Eu gosto da música de Manson!”, exclama Morris. “Me chame de tolo. Mas acho que há algo realmente interessante [nela], e muitas outras pessoas se interessaram por sua música.” Morris discorda do que chama de “consenso geral de que Manson era profundamente sem talento” e sugere que suas músicas revelam “o desespero do homem”.
Ele também acredita parcialmente na teoria de que a rejeição de Manson pelo produtor musical Terry Melcher desempenhou um papel nos assassinatos de Tate-LaBianca. Melcher morou na casa da 10050 Cielo Drive antes de o cineasta Roman Polanski e sua então esposa, a atriz Sharon Tate, se mudarem.
“Todos já ouvimos o argumento de que devemos optar pela explicação mais simples, mas talvez não haja uma explicação simples”, diz Morris. “Talvez haja apenas uma explicação estúpida. A explicação da confusão, dos propósitos cruzados, de pessoas que não sabem o que estão fazendo e têm razões confusas para fazer qualquer coisa.”
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