Cinelet | As Histórias De Meu Pai: mitomania é o plano de fundo do drama familiar francês

O drama francês com uma pitada de comédia, As Histórias De Meu Pai, traz Benoît Poelvoorde como protagonista e estreia hoje (09) nas salas de cinema do Brasil

O roteiro assinado por Améris e Murielle Magellan, é inspirado no livro de Sorj Chalandon, As Histórias De Meu Pai (Profession du père) e, traz o personagem de Benoît Poelvoorde (Coco antes de Chanel) como uma figura peculiar: André, pai de Émile (Jules Lefebvre). A trama acontece no começo dos anos de 1960, e André conta ao filho suas grandes peripécias, como campeão de judô, paraquedista, jogador de futebol, espião, e, em especial, Conselheiro de Charles de Gaulle.

O cineasta Jean-Pierre Améris conta que o livro é muito mais sombrio, mas, para o filme ele mudou um pouco o tom, aproximando-se também da comédia. “Eu queria que o filme tivesse uma espécie de fantasia que ecoasse a loucura desse pai. Inventar sua vida, às vezes pode ser mais alegre do que a vida real.”

A mitomania de André é vista com ingenuidade e algo de lúdico pelo olhar do filho, já para sua mulher, mãe de Émile, é motivo de angústia.

Émile e sua mãe. Foto: divulgação/Caroline Bottaro

“O pai não quer destruir seu filho, nem apagá-lo. Ele quer arrastá-lo para sua loucura, para um mundo de pura ficção, mas o que acaba sendo perigoso. Tudo isso para não ficar sozinho ali, para ter um amigo. Você precisa de um ouvinte mitomaníaco. Ele aparece como um herói aos olhos de seu filho, que quer fazer de tudo para estar à altura. E a criança não consegue perceber isso, ela não tem as ferramentas”, explica Jean-Pierre sobre o abuso psicológico que a criança sofre.

Améris conta que desde o início, tinha Poelvoorde como protagonista de As Histórias De Meu Pai. “Na verdade existe um medo hoje de fazer o papel de um homem que humilha a esposa e bate no filho. Mas se os atores não estão ali para encarnar a escuridão humana, tudo desmorona. E Benoît faz isso muito bem, pois esta também é a nossa humanidade. E Benoît, sem salvá-lo, o torna humano. O pai é um homem sobrecarregado consigo mesmo e que sobrecarrega aqueles que o cercam. Ele tem medo de não ser ouvido.”

Confira o trailer e a sinopse oficial

André Choulans é um homem que tem diversas profissões, e é idolatrado por seu filho, especialmente depois de se tornar conselheiro de Charles De Gaulle. Quando acha que foi traído por ele, pede ajuda ao garoto para matar o general.

Opinião da redação

A história já inicia com o primeiro dos muitos conflitos à mesa que a família disfuncional do pequeno talentoso desenhista Émile, tem. Émile ama agradar e impressionar o pai, como qualquer criança da sua idade. Sua amorosa mãe, talvez por dependência emocional, não consegue defendê-lo das surras e nem tirá-lo daquela situação de abuso psicológico.

Os desenhos do garotinho vão deixando de ser alegres. Nos decepcionamos junto com Émile quando ele entra em apuros na escola por causa de uma das histórias do pai e André não o defende.

Esses fatores devem fazer o público que viveu a infância em um lar problemático, se identificar em vários momentos. O longa traz uma reflexão sobre como tratar com mais cuidado a inocência de nossas crianças e também mostra que ignorar o familiar com transtornos psicológicos definitivamente não é o caminho. O telespectador se prende ao filme para saber o desfecho das mentiras de André, até chegar em um fim de tocar o coração. As Histórias De Meu Pai ganha três saquinhos de pipoca do Cinelet.

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Foto de capa: divulgação/Caroline Bottaro