Espetáculo Amadeo, dirigido por Nelson Baskerville, estreia em 10 de março no Tucarena

Com direção de Nelson Baskerville, o elenco de Amadeo tem César Mello, Chris Couto, Cláudia Missura, Janaína Suaudeau, Thomas Huszar e, no papel-título, Thalles Cabral

Amadeo, texto autoral  de Côme de Bellescize, teve sua estreia em 2012 no Théâtre de la Tempête, em Paris. Baseado em um caso real, de Vincent Humbert, que ficou tetraplégico, cego e mudo após  um acidente de carro. Movendo apenas seu polegar direito, conseguiu escrever um livro com o jornalista Frédéric Veille: Eu Peço o Direito de Morrer. A repercussão foi tamanha que se proibiu na França o excesso terapêutico, permitindo ao paciente o uso de cuidados paliativos e até o direito de parar alguns tratamentos.

Aos 19 anos, Amadeo adora videogames e carros. Seu sonho é ser piloto de Fórmula 1. É virgem, mas a namorada quer resolver a questão, sob certas condições. Tem uma mãe ansiosa; seu melhor amigo quer convencê-lo a entrar para o Corpo de Bombeiros. Tem uma vida inteira pela frente. Certa noite na estrada, um caminhão destrói o carro que ele dirige e muda o futuro de Amadeo, que sobrevive em meio às ferragens retorcidas, mas quando volta do coma está preso a um corpo que já não reage. Imóvel.

“A pergunta central é até onde temos a liberdade de escolher e dirigir a própria vida”, conta o diretor Nelson Baskerville. “Cada um vai acompanhar e avaliar as escolhas dos personagens de seu ponto de vista, refletindo e não simplesmente reagindo”.

Foi a atriz e diretora franco-brasileira Janaína Suaudeau, formada no Conservatório Nacional de Paris, que se empenhou em trazer para o Brasil a peça de Bellescize, que  assistiu na estreia parisiense.

“De muitas maneiras fiquei impactada pela montagem – pelo lado pessoal, pela coragem e habilidade do autor ao tratar temas-tabu, pela reflexão em nível individual e coletivo que Amadeo provoca no espectador”, comentou.

“Traduzi o texto com a colaboração de Clara Carvalho e minha personagem, Júlia, representa a juventude, a descoberta da sexualidade em contraste com a desaceleração física de Amadeo – mas em circunstâncias muito frágeis; ela não dá conta do que houve com o namorado, e acaba se atropelando”. Para Janaína, o mais impressionante no trabalho de Bellescize é a “capacidade que sua dramaturgia tem de oferecer à sociedade uma visão caleidoscópica, panorâmica”.

Foto: divulgação/Gal Opido

Peça-Sonho

Elaborado como uma peça-sonho, à maneira de Strindberg, com cenas curtas e cortes rápidos, como define o diretor Nelson Baskerville, Amadeo combina imagens oníricas e diálogos imaginários com a dura realidade, que se desenvolve em dois planos. Clóvis, o amigo imaginário – uma referência ao serviçal Clov do Fim de Jogo, de Beckett -, age de modo lúdico-violento para traduzir e sacudir conflitos, reflexões e sentimentos internos de Amadeo. “O teatro é o espaço desse véu, dessa intermediação com a realidade para que a possamos suportar, resistir e elaborar”, diz Baskerville.

Amadeo, sem perspectiva de melhora, consegue se comunicar de maneira precária com dois dedos e decide morrer. “Existe uma coisa viva dentro dele. A ligação com o bombeiro que o resgata é particularmente bonita – ele quer convencê-lo a viver. Quem está à volta de Amadeo é obrigado a repensar as razões para estar vivo, enfim”, explica o diretor. “E vejo a aceitação dessa mãe no centro de tudo, o ponto de gravidade da peça”.

A temporada de Amadeo vai de 10 de março a 28 de maio de 2023. Sextas e sábados às 21h. Domingos às 18h, no teatro Tucarena, ingressos à venda na Sympla.

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Foto de capa: divulgação/Gal Opido