Cinema
Cinco razões para conhecer o trabalho de Hayao Miyazaki
Hayao Miyazaki é um apaixonado pela simplicidade e pela delicadeza da vida, mas essa ainda não é uma das razões
Hayao Miyazaki já é um nome conhecido aqui do site, mas ainda não é o bastante, porque suas obras são maiores do que simples indicações para umas horas de lazer. Sua carreira é marcada pela simplicidade e pela delicadeza. E hoje a gente vai te ensinar a apreciar essas qualidades em seus trabalhos.
Mas entender os processos do autor talvez não seja assim tão fácil, e é por isso que a ideia é te contar sobre a ideologia principal por trás de suas obras, e assim, te convencer de que seus filmes merecem entrar na sua lista de queridinhos.
Invisível aos olhos
Quem é fã de O Pequeno Príncipe deve saber de onde vem a referência desse subtítulo. E não é à toa. A verdade é que o livro, escrito por Antoine de Saint-Exupéry, é um clássico que se comunica muito bem com as obras de Hayao Miyazaki.
Fã do autor do livro, tendo uma outra obra de Saint-Exupéry como um de seus livros preferidos, Miyazaki fez questão de manter suas animações em 2D, apesar da evolução dos grandes estúdios para animações 3D. E isso acontece porque Miyazaki admira e valoriza as pequenas expressões e a delicadeza da simplicidade da vida.
Quase como uma extensão dos ideais de vida que O Pequeno Príncipe propaga para os leitores, os filmes de Hayao Miyazaki valorizam essas invisibilidades aos olhos e focam a obra em reproduções da realidade e da monotonia real da vida.
Ma 間
Ma (間) é uma palavra japonesa para descrever o vazio. E os filmes de Miyazaki são cheios dele, do vazio intencional. Não o vazio de história ou enredo, porque isso nunca acontece em suas obras, mas o vazio de algo importante.
Cada um de seus filmes tem pelo menos uma cena em que os personagens estão ali, em que algo está acontecendo, mas que esse algo não vai influir na trama exatamente. Como a cena da viagem de trem em A Viagem de Chihiro; ou o momento em que Sophie para de caminhar e se senta em uma pedra para o almoço, em O Castelo Animado. Ou Ponyo esperando seu primeiro macarrão cozinhar para jantar com seu melhor amigo.
Mesmo que as ações sejam indiretas, elas não influenciam de verdade na história, e isso causa a sensação de pausa para o espectador. Essa leveza está ali de propósito, para nos lembrar que a vida não é apenas ação direta, mas sim movimento constante. Mesmo quando parece que nada está acontecendo.
Aviação
Talvez você não saiba, mas Antoine de Saint-Exupéry era piloto antes de ser um autor publicado. Seus livros eram focados em aviação, mas não sobre a técnica da coisa, e sim sobre a delicadeza: relações humanas nas pistas, paixão pelo céu e a oportunidade de ver o mundo de cima.
Todo esse amor se reflete nas obras de Hayao Miyazaki também. Seja em um gato-ônibus que corre pelos cabos da cidade, uma bruxinha em uma vassoura ou um engenheiro aeronáutico. Miyazaki sempre permite que seu público entenda o funcionamento da aviação, seja ela como for.
Nos anos 1990, o diretor viajou pela Europa e pelo norte da África, recriando os passos de Saint-Exupéry, e tirou disso inspiração para tornar ainda mais real a experiência dos espectadores quando seus personagens voam ou caminham pelo céu. Ter viajado em um avião parecido com o de seu ídolo fez de Hayao Miyazaki uma força ainda maior nas animações que apreciam e recontam histórias importantes sobre a aviação. Seja ela real ou ficcional.
Protagonismo feminino
O protagonismo feminino criado por mãos masculinas não é lá muito bem feito, isso em uma versão bem crua de autores ou cineastas que não se permitem entender o feminino, seja como uma caraterística ou como uma visão de gênero. E habitar um mundo tão machista e opressor, dar espaço para que Hollywood empurre versões estapafúrdias e um tanto ocas sobre a existência da mulher na sociedade.
Poucos autores e diretores conquistaram o feminino tão bem, deixando claro que nada mais é do que uma palavra, e que ser mulher é o mesmo que ser homem: somos todos seres humanos cheios de luz e sombras dentro de nós. E Hayao Miyazaki foi um desses poucos que conseguiu essa proeza com maestria.
Seus filmes são constantemente protagonizados por mulheres, e servem muito bem esse prato de existência. Suas personagens podem ser princesas, heroínas, bruxas ou até mesmo vilãs, e todas elas são fortes e inteiras, cheias de suas próprias complexidades. Longe de esperar serem salvas por um príncipe encantado ou algo tão idealizado de forma machista e incrustado na nossa sociedade, suas protagonistas são feitas para deixar claro que ser mulher não passa de uma característica da existência. Tal como ser homem.
Livros, livros e mais livros
Nesse momento do texto você já entendeu que Hayao Miyazaki é um leitor voraz e apaixonado, e que usa de suas experiências na literatura para criar e desbravar o mundo na versão 2D em grandes telas de cinema. Mas sua paixão pelos livros não para nesse momento.
Miyazaki não só é um grande leitor e apreciador da literatura, como conseguiu os direitos de alguns dos livros mais interessantes para adaptar para o cinema. E mesmo estando imerso no universo da animação, sendo engolido por estúdios como a Disney, que foca em adaptar livros que tenham uma magia ou narrativa muito similar, com roteiros sempre voltados para princesas e enredos românticos, ele abusa da sua criatividade.
Miyazaki foca em buscar livros que o permitam criar adaptações cheias de vida e com variedade de histórias. Algumas dessas obras são O Serviço de Entregas da Kiki, de Eiko Kadono; e também O Castelo Animado, de Diana Wynne Jones. Assim como o filme Nausicaä do Vale do Vento, que foi adaptado de um mangá, que é de autoria do próprio Miyazaki.
Saber de tudo isso importa para validar e absorver a obra de Hayao Miyazaki em um mundo tão coberto de obras feitas com o único intuito de causar impacto. Miyazaki não gosta de impactar, ele gosta de tocar o coração de seus espectadores, e faz isso muito bem! Agora a gente quer saber se você concorda com a gente, e para isso estamos te esperando lá no Instagram. E aqui no Le Ferrarez você não perde nada sobre o universo mágico do diretor e nem sobre o universo do entretenimento.
Foto de capa: divulgação
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