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Cinelet | Aparências: o impacto de uma vida baseada no alheio

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Aparências é um filme que discute o peso de uma sociedade classe alta em tempos modernos

Com uma comunidade francesa de classe alta vivendo em Viena, Aparências reflete o peso social de depender da opinião alheia.

Ève (Karin Viard) está no auge da sua vida social. Com um casamento julgado perfeito pelo seu meio social – com o maestro internacionalmente famoso, Henri Monlibert (Benjamin Biolay) -, Ève se julga superior aos casais que fracassam no amor.

Ou era o que ela pensava até um jantar na casa de sua amiga mais próxima. Quando sua comunidade francesa de classe alta, intelectualizada e cheia de fofocas maldosas, se reúne para um jantar, Ève passa a desconfiar de seu marido.

Desde então, sua vida baseada em perfeição e aparência desmorona. Seu filho, descobrimos, já tinha sido uma manobra para tentar salvar uma relação destruída. O caso extraconjugal de Henri já não parece ter sido o único em anos de casamento, e sua sociedade frívola é um lembrete constante de como ser mulher pode ser complicado em qualquer época.

Ambientação 

Um jantar entre amigos, no drama Aparências

Foto: divulgação

Aparências é um drama francês lançado em 2020, que reflete uma comunidade francesa morando em Viena, na Áustria.

Distante de seu país e língua de origens, essa comunidade se agarra ao que tem para se sentir em casa. Falam francês entre si, matriculam seus filhos em uma escola francófona e mantém seu grupo seleto e fechado. As mulheres dessa pequena sociedade de classe alta só é validada se viver em uma relação monogâmica ideal.

Ève, sempre disposta a julgar rápido, exibir sua superioridade ante o resto das pessoas e viver todos os seus dias disposta a não ser o foco das fofocas, se choca ao ser retirada a força do seu mundo cor-de-rosa.

Com uma fotografia fria, Aparências reflete o drama de ser mulher em qualquer ambiente social. Sendo ambientado em 2020, o filme poderia, facilmente, ser um drama de época, com todo o drama do julgamento alheio e da dependência da aparência a ser mantida.

Matrimônio 

Ève e Henri no drama Aparências

Foto: divulgação/Synapse Distribution

Há quem diga que relações monogâmicas e a instituição do matrimônio são padrões de vida ultrapassados. E Ève se vê diante desse dilema.

Ao descobrir uma traição do marido, ela tenta se safar do peso de ter sido trocada. Primeiro a culpa tenta ser abatida por álcool, depois por ações semelhantes as de Henri e, por fim, por vingança.

Quando nenhuma das soluções se prova boa o bastante e sua tentativa de traição quase vira um filme de terror por culpa do parceiro escolhido, mais um drama se soma à conta.

Se o matrimônio é uma instituição falida, Aparências prova que a perseguição por homens frustrados não é. E se você assistiu a série You, da Netflix, sabe do que estamos falando.

Feminismo em debate

Poster oficial do filme aparências

Foto: divulgação/Synapse Distribution

Sendo uma obra atual, esperamos que o filme abra as portas da vida de uma mulher forte e independente, que escolhe uma vida em que a dor causada por seu parceiro seja só uma lembrança de como a sua relação terminou. Afinal, que feminista se permite continuar onde já não se encaixa?

Mas eis que o roteiro declina a expectativa do público. Ève não está preocupada em ser independente e se mostrar capaz de viver bem sem aquela relação já fracassada e cheia de dores. Pelo contrário! Ève quer manter seu casamento mais do que qualquer coisa.

Desesperada por se manter intocável diante da sua comunidade, ela causa impactos diretos na vida da amante do marido, joga seu drama conjugal para os olhos atentos e cruéis do seu sistema de castas femininas e empurra sua própria vida para uma ladeira interminável.

A obra é baseada no livro Trahie, de Karin Alvtegen, e explora os custos e causas de se manter uma vida baseada nas aparências de uma sociedade cheia de segredinhos sujos.

Opinião da Redação

Henri no drama Aparências

Foto: divulgação/Synapse Distribution

Com toda aparência francesa que amamos, a estética do filme é a primeira coisa a nos convencer. Existe um contexto curioso entre o que imaginamos em uma comunidade parisiense e a sujeira óbvia de relações fadadas ao fracasso.

Observar a vida de uma lente de aumento tão explícita é interessante, apesar de um tanto quanto incômodo. Afinal: quantas vezes nós não fomos como a Ève? Que escolhas estamos fazendo e não deveríamos? Vale tudo pela amabilidade do julgamento público?

O filme ganha diversidade em debates importantes para as causas femininas e feministas. Coloca em cheque o pensamento enraizado na nossa sociedade de que uma traição é sempre culpa da outra mulher, e nunca do homem comprometido. Mas quando vista de outro ângulo, a mulher que trai é obviamente a culpada por querer se envolver com outro homem.

E aí: você encararia esse filme sem medo de se questionar sobre as aparências que você mantém? Para se manter por dentro de mais resenhas cinematográficas como essa, fica de olho aqui no Le Ferrarez. E não esquece que também estamos no Instagram.

Foto de capa: divulgação/Synapse Distribution

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