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Cinelet | O Menino e a Garça: a despedida de um gênio
Hayao Miyazaki se despediu da carreira com um filme que o fez sair da aposentadoria, e fez isso muito bem
Lançado em 2023, “O menino e garça”, último filme de Hayao Miyazaki, nos contou uma versão do diretor que ainda não conhecíamos. E amamos!
A história conta como o jovem Mahito foi drenado da capital do Japão e empurrado para o interior, mesmo sem estar pronto, para viver uma vida nova. No roteiro, Mahito é desafiado com a memória familiar, com o novo casamento do pai, com o luto pela perda precoce da mãe e pelo impacto da guerra em sua vida.
Com nuances de história real sobre o papel do Japão durante a Segunda Guerra Mundial e reflexos de desabafos pessoais, o filme nos transporta para dentro do que Miyazaki estava pensando quando criou a história. Com direito, até, a um documentário próprio na Netflix.
CENÁRIOS DE GUERRA
Já vimos momentos de guerra sendo retratados em vários dos filmes do diretor, mas em “O menino e a garça” o discurso é mais pessoal. É até mais visceral.
Mahito perde a mãe em um bombardeio no hospital local de onde mora, na capital japonesa, logo nos primeiros momentos do longa. A história, então, nos mostra a perspectiva infantil da grandiosidade do problema. Com fogo, desespero e desesperança, as famílias com menos meios continuam na capital, enquanto os ricos se mudam para o interior.
Deixando o terror da guerra para trás, Mahito é arrastado pelo pai para essa nova vida. Uma vida que inclui a necessidade de aceitação de um novo casamento do pai e o nascimento de um novo irmão. A mãe de Mahito tinha morrido há apenas um ano, e para piorar, a nova madrasta era irmã dela.
Por mais bizarro que pareça, no entanto, as tradições antigas do Japão davam esse “direito” para os viúvos. Um novo casamento deveria ser feito o mais rápido possível. De preferência, com uma irmã mais nova ainda solteira da falecida. Estranho ou não, Mahito se vê preso nesse costume de famílias ricas e se vê no interior, lidando com muitas emoções negativas ao mesmo tempo.
O filme é claro sobre isso: a guerra nos tira toda a sanidade e tudo que esperamos que possa melhorar.
UM LUTO ANTECIPADO
A criação do roteiro veio de perdas que o diretor teve em sua vida pessoal. Em poucos anos, Hayao Miyazaki perdeu dois de seus amigos mais próximos. Entre eles, Isao Takahata, melhor amigo e sócio na fundação do Studio Ghibli.
Enquanto Miyazaki nos conta sua versão da dor do luto, recontando os fatos que o fizeram avaliar toda a sua carreira pelos olhos da perda de Takahata, ele também se despede do público. Inevitavelmente, vendo a despedida de Hayao Miyazaki de toda a sua carreira excepcional, também o vemos se despedir de quem é e de quem deixará para trás na sua partida.
Por uma verdade genuína, Miyazaki é amoroso a seu modo e constroi relações duradouras. Mahito reflete seu lado mais isolado, controlador e obstinado, e não de uma forma ruim, mas de maneira completamente crua. Mahito também é capaz de admitir que não é tão bom quanto esperam que seja, que sua juventude não é um reflexo de pureza, mas sim um quadro em branco para pólos opostos de emoções controversas. Apesar de ser equilibrado, é impulsivo.
E fica impossível não pensar no adeus que teremos que dar a Miyazaki quando ele partir. O nosso distanciamento de fãs nos permite preceder essa dor, vinda dele também, com a iminente despedida permanente. A aposentadoria dele é o que menos nos assusta no momento…
A RESPOSTA FINAL
Mahito escolhe as aventuras que vai viver de acordo com seus instintos, seus impulsos e as suas necessidades emocionais. “O menino e a garça” é um reflexo importante de toda uma vida aprendendo a controlar essas partes de nossas personalidades. E, ao que tudo indica, Hayao Miyazaki ainda não aprendeu a fazer isso também.
Ainda assim, a resposta final do filme é que devemos aceitar as nossas essências. E essa é a versão sem spoiler. Com spoiler a coisa seria bem mais complexa… É fácil imaginar, se você já é fã do trabalho de Miyazaki, onde essa conversa levaria.
Em “O menino e a garça”, encontramos versões plausíveis para respostas que gostaríamos de ter. É como se Miyazaki nos desse o que nenhum terapeuta vai dar: esperança de entender a vida em algum momento. Poético, mas realista.
Do lado de cá, nos apaixonamos novamente pelo trabalho do diretor, e seguimos lamentando sua aposentadoria – que agora parece ser real. E queremos saber se você já assistiu ao filme. Se ainda não viu, ele está disponível na Netflix e merece o título de última obra de Hayao Miyazaki.
Por isso, O Menino e a Garça ganha cinco pipoquinhas.
Foto de capa – reprodução: Revista O Grito
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